O estudo liderado pela pesquisadora Maiken Nedergaard e publicado na revista Science mostrou que as células do cérebro, provavelmente as neuróglias, encolhem, abrindo espaço entre os neurônios, permitindo que um fluído "lave" o cérebro.
A pesquisa do Centro Médico da Universidade de Rochester, no Estado de Nova York (EUA), sugere ainda que distúrbios cerebrais podem estar relacionados à "falhas" nesse tipo de "limpeza".
Já se sabe que o sono desempenha um papel importante na fixação da memória e no aprenzidado. Os pequisadores da Universidade agora acreditam que a "faxina cerebral" é uma das principais razões do sono.
"O cérebro tem energia limitada e precisa escolher entre dois estados funcionais - ou está acordado e atento, ou dormindo e fazendo a faxina", disse Nedergaard.
"É como uma festa em casa. Ou você recebe os convidados, ou limpa a casa. Não dá para fazer os dois ao mesmo tempo", disse.
Neurocientistas dos Estados Unidos identificaram o gene culpado por tornar tão difícil a tarefa de acordar cedo. Os pesquisadores da Faculdade Weinberg de Artes e Ciências perceberam que as as moscas drosófilas tinham seus relógios biológicos alterados drasticamente - elas dormiam e descansavam em horários alternados, sem obedecer um ciclo - quando era removido o gene responsável por regular seus ritmos diários. Segundo artigo publicado na Nature, a pesquisa sobre o gene "24", como foi apelidada a descoberta, pode ser aplicado em humanos, já que os insetos têm o código genético parecido com o nosso. Ou seja, uma pessoa que tem dificuldade de acordar muito cedo, pode ter um problema no gene "24" Getty Images/Thinkstock
O estudo descobriu a "faxina" a partir de uma descoberta anterior, feita no ano passado - a de que existe uma rede de dutos que retira a "sujeira" do cérebro, nomeada pelos cientistas como sistema glymphatic (ainda não há tradução do termo em português).
Os pesquisadores observaram o sistema glymphatic de ratos e viram que ele era dez vezes mais ativo durante o sono.
Células do cérebro, provavelmente as neuróglias, encolhem durante o sono, aumentando o espaço entre o tecido cerebral, permitindo o bombeamento de mais fluído e a limpeza das toxinas.
Para a professora Nedergaard, esta é uma função "vital" para se manter vivo, mas aparentemente só ocorre durante o sono.
"O que vou dizer é puramente especulação, mas parece que o cérebro perde muita energia bombeando água nele mesmo, função que é provavelmente incompatível com o processamento de informação", disse.
A professora disse que a dimensão da descoberta só poderá ser medida após testes com humanos.
A BBC ouviu um cientista independente para comentar a descoberta. Neil Stanley disse que "já há dados importantes sobre as razões psicológicas para dormir, como memória e aprendizado".
"Mas esta [faxina] é uma razão química e física de verdade, algo importante", disse.
Doenças que levam à perda de células cerebrais, com as doenças de Parkinson e Alzheimer, surgem com a disseminação de proteínas danificadas no cérebro.
Os pesquisadores sugerem que problemas no mecanismo de limpeza do cérebro podem estar relacionados a estas doenças, mas alertam que ainda é necessário mais pesquisa.
Todos deveriam dormir oito horas por dia. MITO: a duração da noite é variável de pessoa para pessoa. Estima-se que, para a maior parte da população, um período entre seis e dez horas, se bom e intenso (sono contínuo e denso), é suficiente. É importante considerar, ainda, que cada fase da vida requer uma quantidade diferente: para os recém-nascidos, entre dez e 18 horas; crianças de até cinco anos, de dez a 12 horas; adolescentes, dez horas em média; adultos, de sete a nove horas. "O que determina uma noite bem dormida não é apenas o que marca o relógio, mas também a qualidade: ela tem que ser reparadora, permitindo ao paciente acordar bem disposto. Para isso, é importante a profundidade do sono, a duração e a ausência de despertares", defende o neurologista Leandro Teles, lembrando que algumas pessoas, como crianças, gestantes e recém-operados têm essa necessidade aumentada. "Há quem se sinta bem com seis horas, enquanto outros precisam de dez. É muito particular", conclui a médica Ângela Beatriz Lana.
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