Viajando há mais de 35 anos, a sonda espacial Voyager 1 está muito perto de cruzar a fronteira do Sistema Solar.
Para começar com um dito popular, é “chover no molhado” dizer que a ciência, desde séculos atrás, já nos permitiu descobrir incontáveis mistérios da natureza, como a movimentação da crosta terrestre, o ciclo da água, os microrganismos responsáveis pelo adoecimento de nossos corpos, a razão por trás do dia e da noite, das estações do ano etc. A ciência nos permitiu conhecer, retirar e transformar elementos da natureza para a construção e adequação de nosso meio, como os minerais, os vegetais e os animais – que podem servir tanto como produtores de matéria-prima (como o bicho-da-seda, por exemplo), como cobaias ou ainda como alimento.
A ciência chegou, inclusive, a desvendar certos mistérios de uma esfera que encanta o homem desde que passamos a ter conhecimento dela: o espaço que transcende a atmosfera terrestre.
Sabemos, por exemplo, que nosso planeta compõe um sistema planetário, e que esse sistema é formado por uma estrela (o Sol) em torno da qual giram planetas, dentre eles, a Terra. Por causa do Sol, nosso sistema planetário é chamado de Sistema Solar.
Sabemos que os planetas giram em torno do Sol porque ele exerce uma força gravitacional. Sabemos, também, que o nosso não é o único sistema planetário que existe. Existem outros, que, juntos, formam uma galáxia. A nossa galáxia, onde o Sistema Solar se localiza, é chamada de Via Láctea. E sabemos que a Via Láctea não está sozinha, existem outras galáxias no universo...
Todo esse conhecimento levou muito tempo sendo lapidado e grande parte dele é fundamentado em suposições e conclusões baseadas, por sua vez, em deduções e inferências.
Na verdade, nunca um corpo terráqueo – no caso, máquinas criadas pelo homem, como foguetes, satélites, naves ou sondas – saiu do Sistema Solar.
Nunca até agora. A nave Voyager 1, lançada em 1977, parece estar bem próxima de romper a fronteira do Sistema Solar.
Expectativa
Nesta semana, a cidade do Rio de Janeiro receberá cerca de mil cientistas e pesquisadores da área de física de partículas (campo específico da Física), para a participação na Conferência Internacional de Raios Cósmicos (ICRC), que ocorre pela primeira vez na América do Sul. Existe uma grande expectativa de que durante a conferência seja feito o anúncio de que, pela primeira vez na história, um objeto criado por mãos humanas vai ultrapassar o limite do Sistema Solar.
Para os cientistas, o mais instigante é a possibilidade de receber, através da Voyager, dados completamente novos do que se conhece do espaço até aqui. Isso porque, dentro do Sistema Solar, a sonda é protegida do contato com partículas cósmicas ultraenergéticas pelo escudo gerado pelo campo magnético solar – escudo esse que protege todos os planetas do sistema de ser bombardeados por tais partículas. Já sem a proteção do escudo, quem sabe o que a Voyager poderá captar?
Muitos cientistas, no entanto, dizem que a informação de que a Voyager (que já percorreu cerca de 19 bilhões de quilômetros desde a Terra) está perto de romper a fronteira ou mesmo a ideia de que a sonda já a ultrapassou, como pensam alguns, é muito incerta. Segundo os mais contidos, não há um ponto que marque o fim do Sistema Solar, mas existe uma imensa área de transição, sendo, portanto, muito difícil saber se a fronteira já foi ultrapassada, se está perto de ser, ou mesmo se a Voyager está mais para perto da fronteira ou mais para longe, ainda bastante imersa no nosso sistema planetário. Todos são praticamente unânimes, porém, ao concordar que a probabilidade de a sonda romper o limite na próxima década é bastante alta.
De qualquer forma, algo próximo da certeza quanto à posição da Voyager e os resultados mais recentes de sua viagem serão apresentados na conferência do Rio pelo pesquisador Edward Stone, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia). Stone dedicou toda a sua vida de cientista espacial para, principalmente, acompanhar a jornada da Voyager.
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