domingo, 30 de junho de 2013

Por que não devemos acreditar em tudo o que a ONU nos diz sobre o desenvolvimento populacional


 
 

Fred Pearce é um dos jornalistas cientí cos mais renomados da Grã-Bretanha. Recentemente, ele se dedicou à demogra a em seu livro “Peoplequake” (“Terremoto humano”, em tradução literal, que até agora só foi publicado em inglês)
EM SEU MAIS RECENTE prognóstico sobre a população mundial, a ONU a rma que em 2100 o mundo abrigará mais de 10 bilhões de pessoas – um bilhão a mais do que o estimado até agora. Logo após essa divulgação, os meios de comunicação falaram em uma nova “bomba demográ ca”. Fiquei chocado. Nos últimos anos, os cientistas vinham revisando suas previsões de crescimento populacional constantemente para baixo, porque as taxas de natalidade estão caindo em quase todo o mundo.
Esses cálculos futurísticos são mais do que meras cogitações. Suas bases servem para tomar decisões reais. Até há pouco, inúmeros pesquisadores estudavam como a Terra alimentaria os então prognosticados nove bilhões de pessoas em 2100, e como ela suportaria os efeitos climáticos resultantes disso. Agora, novos fundos de pesquisa serão investidos no estudo da “questão dos 10 bilhões” – e talvez até de 11 ou 12 bilhões que, de acordo com a ONU, também poderiam ser esperados.
Após olhar os números, cheguei à conclusão de que a nova previsão alarmista é mais uma declaração política do que uma análise profunda. Os dados disponíveis não con rmam o aumento previsto.
A BOA NOTÍCIA, muito pouco divulgada, é que a maior parte do mundo já está empenhada há muito tempo em desarmar a “bomba populacional”. De acordo com a média internacional, as mulheres de hoje só têm cerca de metade do número de lhos que suas avós tinham. Desde os anos de 1960, o índice global de fertilidade caiu de 4,9 para 2,6 lhos por mulher. A previsão da ONU para o período de 2010 até 2015 supõe apenas 2,45 lhos – o que já está bem próximo do índice de 2,3, a taxa em que a população mundial permaneceria constante (neste cálculo está incluso o fato de que nem todas as meninas sobrevivem até a maturidade sexual).
Quase a metade de todos os países do mundo já está abaixo dessa taxa, o que signi ca que sua população, sem imigração, diminuirá. Isso inclui toda a Europa e a América do Norte, o Caribe, a maior parte do Extremo Oriente, do Japão e da China até o Vietnã, e uma grande parte do Oriente Médio, inclusive o Irã. Embora possa ser uma surpresa para muitos: as mulheres iranianas conseguiram reduzir o número de lhos de oito, nos anos de 1980, para uma média de 1,8. As mulheres em Teerã hoje têm menos lhos do que as que vivem em Nova York ou Londres.
Muitos outros países estão rumando na mesma direção. Embora as mulheres de Bangladesh frequentemente sejam incultas, pobres, e muitas vezes se casem ainda adolescentes, elas têm em média “apenas” três lhos. Na Índia, a taxa já está abaixo de três e no Brasil menos de dois. A China, por outro lado, tem sua política de “um lho por família”.
As principais exceções onde a taxa de fecundidade ainda é superior a quatro: alguns pontos do Oriente Médio com muitas estruturas sociais patriarcais, e uma série de regiões rurais da África, onde até mesmo as crianças pequenas já podem ser valiosas mãos-de-obra nos campos com seus pais.
A tendência para uma diminuição da fecundidade é quase universal e só em poucos casos depende de políticas de coerção “à la China”. Muito mais comuns e de acesso con ável são as oportunidades de planejamento familiar, bem como uma crescente disposição para abortar lhos indesejados.
De uma forma ou de outra, as mulheres de todo o mundo estão optando por famílias menores. O principal motivo para isso é que os grandes assassinos infantis, como o sarampo e o tétano, desapareceram em grande parte. Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das crianças de fato consegue chegar à idade adulta. Embora esse desenvolvimento tenha levado a um crescimento populacional quadruplicado na Terra, agora segue-se uma adaptação e as mulheres têm menos lhos.
Esta é uma revolução reprodutiva que garantirá que teremos uma população mundial estável neste século, embora com uma idade média em rápida ascensão.
ISSO NÃO ACONTECERÁ IMEDIATAMENTE. O crescimento continuará por algum tempo, em parte porque os “babyboomers” do nal do século 20 estão tendo seus lhos agora. Depois disso, porém, a população mundial voltará a encolher. Esse processo poderá retardar o aumento global da expectativa de vida, mas não impedi-lo.
A pergunta mais importante é: com que rapidez e abrangência o índice de fertilidade cairá globalmente? É exatamente nesse ponto que a nova previsão da ONU parece estranha: embora o relatório atual tenha reduzido a estimativa de natalidade (2010-2015) para uma média de 2,49 a 2,45 lhos por mulher, ela pressupõe taxas de fertilidade muito mais elevadas do que as previstas até agora para períodos subsequentes. Esse paradoxo resulta de uma mudança aparentemente infundada nas suposições baseadas no modelo.

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