Pesquisadores descobrem que, assim como humanos, espécie de macaco imita o comportamento de companheiros na tentativa de criar laços afetivos. O mesmo animal pode, ainda, se comunicar por meio de sons com ritmo semelhante ao da fala humana.
Para criar laços afetivos, os macacos gelada imitam seus companheiros quando esses fazem expressões faciais homólogas à risada humana. (foto: P.F. Ferrari)
A neurociência já provou que o riso é contagioso e, de acordo com um estudo publicado na Scientific Reports, isso não se limita aos humanos. Cientistas italianos descobriram que, na tentativa de estreitar laços afetivos, macacos da espécie Theropithecus gelada são capazes de imitar seus companheiros quando esses fazem expressões faciais homólogas à risada humana.
Durante seis meses, a equipe filmou mais de mil momentos de interação entre 34 macacos gelada. A ideia era identificar nesses animais a ocorrência do rapid facial mimicry (mímica facial rápida, em tradução livre), fenômeno comum em humanos e que consiste em imitar a expressão facial do outro imediatamente após visualizá-la.
As imagens registraram ocasiões em que os macacos exibiam um dos dois tipos de comportamentos considerados homólogos ao riso e que são usados para convidar outro macaco a brincar. No primeiro, os geladas abrem a boca e mostram os dentes de baixo, enquanto no segundo, que caracteriza que o animal está muito empolgado para brincar, os macacos expõem totalmente dentes e gengivas.
Após analisar as imagens, os pesquisadores perceberam que, quando o estímulo era uma ‘risada’, os macacos que eram convidados a brincar imitavam a expressão 75% das vezes. Além disso, quando a dupla era composta por mãe e filho, o filho reproduzia as expressões da mãe com maior frequência do que quando interagia com outro adulto.
Palagi: “É a primeira vez que isso é mostrado em macacos. Até então, esse comportamento só havia sido identificado em orangotangos e humanos”
Segundo Elisabetta Palagi, zoóloga da Universidade de Pisa, na Itália, a grande novidade do estudo está em mostrar que um animal filogeneticamente distante do ser humano é capaz de exibir um comportamento tão comum em nossa espécie. “É a primeira vez que isso é mostrado em macacos. Até então, esse comportamento só havia sido identificado em orangotangos e humanos”, explica.
Palagi acrescenta que o fenômeno está ligado à atuação de neurônios-espelho, grupo de células ativado quando ações alheias são observadas e que permite compreender a intenção do outro. “Esses macacos vivem em comunidade e brincam muito, mesmo quando adultos. Assim, a imitação é muito útil, pois, quanto mais um imita o outro, maior é a reciprocidade de sentimentos e mais fortes ficam os laços afetivos”, explica.
Apesar das semelhanças entre o macaco gelada e o comportamento humano, o último ancestral comum dessa espécie com a nossa viveu há cerca de 30 milhões de anos. “O gelada compõe uma espécie distante da nossa, mas compartilha conosco algumas características comportamentais”, diz Palagi.
Papo de primata
Além do riso contagiante, é possível que os geladas compartilhem conosco outro tipo de comportamento. Um artigo publicado no periódico Current Biology mostrou que esses primatas se comunicam por meio de um som com ritmo semelhante ao da fala humana.
De acordo com o estudo, o som emitido pelos geladas é gerado a partir de rápidos movimentos labiais. Assim como as sílabas conferem um ritmo à fala humana, os movimentos dos lábios dos geladas dividem o som em intervalos, os quais os cientistas chamam de balbucios, conferindo ritmo ao discurso do primata.
Após gravar balbucios emitidos por seis geladas, o zoólogo da Universidade de Michigan e autor da pesquisa Thore Bergman notou que os balbucios conferiam ao som dos animais um ritmo que girava entre 6 a 9 Hertz. Na maioria dos idiomas, o ritmo da fala humana permanece na faixa de 2 a 7 Hertz. “Outros primatas podem até produzir sons, mas o gelada é quem tem o ritmo mais próximo ao da fala humana”, diz o pesquisador.
Confira abaixo um vídeo com um breve discurso do macaco
(crédito do vídeo: Seth Dobson, Dartmouth College)
Por: Mariana Rocha
Publicado em 29/04/2013 | Atualizado em 29/04/2013
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