A Internet é um veículo democrático com participação popular ou é mais um meio de dominação das massas e alienante? Será que já é possível ter a dimensão disso? Veja o comentário sobre o assunto com base na Dialética do Esclarecimento e na Escola de Frankfurt
Na década de 1940, a cultura de massa foi um dos temas centrais nos questionamentos de alguns pensadores que integraram o movimento batizado como Escola de Frankfurt. Um dos frutos dessa reflexão foi o ensaio A Indústria Cultural: O Esclarecimento como Mistificação das Massas, trabalho elaborado por dois dos principais integrantes do movimento, Theodor W. Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973). Nesse texto - publicado no livro Dialética do Esclarecimento (1947) -, os pensadores se esforçaram em evidenciar o caráter controlador e mercantil da indústria cultural - termo cunhado pelos autores. Para Adorno e Horkheimer, os produtos dessa indústria seriam parte integrante de uma lógica que visava, ao mesmo tempo, padronizar os indivíduos e gerar lucro para os detentores do poder econômico. Este ensaio dos frankfurtianos - que, ainda hoje, se constitui como referência decisiva nas pesquisas sobre a cultura de massa - teve como objeto de estudo os meios e produtos da indústria cultural da primeira metade do século XX. Nesse período, o predomínio era do rádio, do cinema e das revistas ilustradas - a televisão ainda estava se estabelecendo como meio massivo, mas já era apontada por esses pensadores como uma possível potencializadora da atuação e dos efeitos da indústria cultural. Atualmente, além desses meios mais tradicionais, um novo e gigantesco fenômeno da comunicação se faz presente: a Internet. Com a inserção desse elemento no cenário comunicativo contemporâneo, uma questão vem à tona: o que diriam nossos autores acerca da Internet?
Conforme os dados divulgados pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), cerca de 1,5 bilhão de pessoas utilizam a Internet em todo mundo. Esse total é resultado de um contínuo e expressivo aumento no número de internautas a cada ano. Para se ter uma ideia, entre 2000 e 2008, a quantidade de usuários da web cresceu em 290% - um percentual que não é superado por nenhum outro meio de comunicação de massa. No Brasil, por exemplo, uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que, já em 2007, a venda de computadores no País - que hoje é o 5º com o maior número de conexões à Internet - superava a de televisores. Foram 10,5 milhões de computadores contra 10 milhões de televisões. Diante disso, não podemos ignorar a abrangência e o poder de comunicação da Internet na atualidade. No entanto, acreditamos que é necessário interrogar qual tem sido o papel sócio-cultural desse novo fenômeno de comunicação: a Internet tem contribuído para a emancipação do homem ou é mais um instrumento destinado ao controle e à alienação dos indivíduos?
Ela tem colaborado para promover a justiça socioeconômica ou constitui-se como uma ferramenta de fortalecimento dos monopólios econômicos? Antes de refletir sobre essas questões, temos, entretanto, de responder a algumas outras: é possível pensar a Internet a partir dos referenciais da Dialética do esclarecimento? Será que a reflexão desses filósofos já não está datada? No nosso entender, as respostas para ambas as perguntas são afirmativas: "sim, é possível pensar a Internet a partir do paradigma frankfurtiano". "Sim, a reflexão já está datada". Apesar de parecerem contraditórias entre si, essas afirmações se encaixam perfeitamente no modelo teórico proposto pela Escola de Frankfurt: a Teoria crítica.
Por João E. Neto
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domingo, 30 de junho de 2013
Dialética do virtual
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