domingo, 30 de junho de 2013

Cliques da vigilância

Se a internet e a tecnologia trazem facilidades e informações, a falta de privacidade parece tema irreversível. Gostos e preferências são desvendados em um clique e os dados, sem consentimento, serão utilizados para oferecer serviço.
 
 
Imagem: Shutterstock
Um clique e estamos na página inicial do perfil de Paulo no Facebook. Outro clique e temos acesso às informações de que Paulo é casado, gosta de futebol, fez uma viagem recentemente, tem duas irmãs - Marina e Mariana -, um sobrinho de 1 ano e 5 meses chamado Pedro, que costuma assistir determinados seriados de TV, escuta músicas de Tom Jobim e Caetano Veloso, entre outras particularidades. Mais um clique e é possível saber que Paulo acabou de sair de casa para jantar com sua esposa em um restaurante localizado no bairro da Mooca em São Paulo. Com três cliques (e, em determinados casos, até menos) é possível traçar um quadro das preferências de Paulo, dos lugares que costuma frequentar, as relações pessoais que mantém, de seus hábitos financeiros e, até mesmo, saber o local em que está naquele exato momento.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, podemos destacar que diretores de supermercados sabem o que um determinado indivíduo consome, o mesmo acontecendo com os dirigentes de bancos, que têm todos os dados de suas movimentações financeiras ou das companhias telefônicas, que têm a gravação de suas conversas. Empresas vinculadas a leitores de textos digitais têm acesso a hábitos de leitura - podendo, assim, direcionar propagandas de acordo com o perfil de interesse do usuário. Câmeras de vigilância registram informações sobre os indivíduos, em grande parte das vezes sem seu consentimento. GPSs armazenam os percursos percorridos pelos indivíduos. Identificadores biométricos registram a entrada e saída dos indivíduos de determinado local.
Computadores, câmeras de vigilância, cartões de crédito, smartphones, GPSs, identificadores biométricos, chips de identificação, entre outras tecnologias informacionais, estão constituindo uma "sociedade da vigilância". Essa expressão caracteriza a sensação de observação gerada pela presença de tecnologias na sociedade, as quais possuem um grande potencial de coleta e armazenamento de informação. Conforme os exemplos citados, na "era da informação" temos acesso a esses dados pessoais sem dificuldade. A facilidade de acesso a este tipo de informação coloca em discussão o tópico da privacidade.
Imagem: Shutterstock

O PRINCIPAL
mecanismo que representa as tecnologias informacionais é o Facebook. E o Brasil lidera o avanço do uso dessa rede social em todo o mundo, com crescimento de 146% no total de usuários em 2012. Em junho último, o país chegou a 54 milhões de usuários ou 5,6% do total da rede no mundo. Os dados são da Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador norte-americano.



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O Facebook é considerado, hoje, uma das principais ferramentas para se conseguir acesso a informações pessoais e que posteriormente serão utilizadas para oferecer serviços
A privacidade é caracterizada no escopo dos estudos tradicionais (Samuel Dennis Warren [1852-1910] e Louis Dembitz Brandeis [1856-1941], 1890; Ferdinand David Schoeman, 1984; Judith Wagner DeCew, 2006, entre outros) como a informação pessoal que é passível de acesso apenas ao próprio indivíduo ou a quem ele considere confiável. Nesse cenário, o tópico da privacidade constitui um problema, por exemplo, quando informações pessoais são acessadas e/ou divulgadas sem o
consentimento do indivíduo a quem se referem, via fotografia, jornal ou TV - uma vez que estes são meios pelos quais as informações pessoais podem ser tornadas públicas sem autorização deste.

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