Pesquisadores estão criando orelhas, narizes e traqueias a partir das células dos pacientes. Será o fim da doação de órgãos?
por João Mello
Uma orelha de laboratório quase pronta: pode parecer filme de terror, mas é um símbolo de
esperança pra muita gente //Crédito: Reprodução
A criação de órgãos em laboratório está se tornando realidade. Aos poucos, cientistas do mundo inteiro estão desenvolvendo uma técnica que permite a produção de partes do nosso corpo com o objetivo de substituir órgãos inutilizados pelas mais diversas doenças.
Ao que tudo indica, essa pode ser uma alternativa interessante para a doação convencional de órgãos, que sempre sofreu com o problema da escassez de doadores e da alta taxa de rejeição dos pacientes receptores. Construir em vez de doar elimina a ardilosa etapa de tomar pesadas drogas anti-rejeição, já que os órgãos são fabricados a partir das células da própria pessoa que irá receber o transplante.
A técnica parte da seguinte premissa: se a metástase de um tumor atacou e afetou um órgão, é só substituí-lo por um novo e saudável. Traqueias e até canais lacrimais já foram criados. A expectativa é que antes do final de 2013 um homem que perdeu o nariz por causa de um câncer de pele terá um novo implantando em seu rosto.
Promover o crescimento celular em um ambiente tão artificial quanto um laboratório sempre foi o desafio que colocava a fabricação de órgãos no departamento de ficção – e não no de avanços médicos críveis. Quando descobrimos como o corpo faz para multiplicar as células e aprendemos a imitar essa técnica, a construção de órgãos passou a ser plausível. Em 1996, um laboratório na Carolina do Norte, nos EUA, construiu uma bexiga – o órgão, não o aparato colorido de festa infantil.
A fabricação e implantação do nariz, citada acima, está sendo conduzida pelo pesquisador Alex Seifalian, da University College London. A partir de um molde de vidro com o formato do nariz de outra pessoa, uma réplica é criada. O material é feito de fibras de planta e resina, resultando em um nanocompósito, uma estrutura parecida com uma colmeia de abelhas: buraquinhos minúsculos, do tamanho exato para que as células se acomodem, são formados. A adição de açúcar e sal no final do processo deixa o nariz com uma textura esponjosa e resistente a proliferação de bactérias infectuosas.
A fabricação e implantação do nariz, citada acima, está sendo conduzida pelo pesquisador Alex Seifalian, da University College London. A partir de um molde de vidro com o formato do nariz de outra pessoa, uma réplica é criada. O material é feito de fibras de planta e resina, resultando em um nanocompósito, uma estrutura parecida com uma colmeia de abelhas: buraquinhos minúsculos, do tamanho exato para que as células se acomodem, são formados. A adição de açúcar e sal no final do processo deixa o nariz com uma textura esponjosa e resistente a proliferação de bactérias infectuosas.
Dr. Alex Seifalian segura o material que compõe a orelha: grande desafio foi achar uma textura que abrigasse as células adequadamente //Crédito: Reprodução
Daí o processo que se segue é como o de plantar um órgão. As células tronco fazem o papel de semente - elas são retiradas do paciente receptor e colocadas nos poros que permeiam o material que está no molde, que a essa altura já pode ser chamado de futuro nariz. Essas células formarão a cartilagem do nariz.
Com a cartilagem encaminhada, fica faltando a pele. A primeira ideia do médico foi de implantar o nariz na testa do paciente, na esperança de que o tecido da cabeça fosse simplesmente acoplar o nariz e revesti-lo de pele. Com o óbvio constrangimento surreal de ostentar um nariz acima dos olhos por semanas, talvez meses, a solução escolhida foi menos explícita, mas certamente não menos improvável – o nariz será colocado no antebraço do rapaz. Se a pele fizer seu papel, se os vasos sanguíneos se formarem corretamente, se não houver infecção, o nariz vai pro lugar de sempre. Substâncias químicas também são injetadas, de modo a transformar as células tronco em células epiteliais, comumente encontradas no interior de vários órgãos. O paciente será capaz de sentir alguns cheiros, mas não como antes. Estima-se que o procedimento todo custe em torno de 40 mil dólares.
Com a cartilagem encaminhada, fica faltando a pele. A primeira ideia do médico foi de implantar o nariz na testa do paciente, na esperança de que o tecido da cabeça fosse simplesmente acoplar o nariz e revesti-lo de pele. Com o óbvio constrangimento surreal de ostentar um nariz acima dos olhos por semanas, talvez meses, a solução escolhida foi menos explícita, mas certamente não menos improvável – o nariz será colocado no antebraço do rapaz. Se a pele fizer seu papel, se os vasos sanguíneos se formarem corretamente, se não houver infecção, o nariz vai pro lugar de sempre. Substâncias químicas também são injetadas, de modo a transformar as células tronco em células epiteliais, comumente encontradas no interior de vários órgãos. O paciente será capaz de sentir alguns cheiros, mas não como antes. Estima-se que o procedimento todo custe em torno de 40 mil dólares.
Se a complexidade de criar um nariz é essa, imagina um coração. O bioengenheiro Dr. Francisco Fernandez-Aviles, de Madrid, está empenhado nesse desafio, considerado instransponível até bem pouco tempo. O coração tem muitos tipos de células, com funções altamente complexas: umas são responsáveis pelo batimento, outras pela formação de vasos, outras pela condução de sinais elétricos. O órgão tem de bombear quase 4 litros de sangue por minuto, mas de maneira mais suave que o coração natural, na tentativa de evitar a morte das células.
Como a atividade elétrica não se forma do nada, o marcapasso será o motor desse coração. Ele deve ficar pronto em até seis anos, mas a recriação do coração inteiro e também de partes dele só deve se tornar uma realidade para os pacientes dentro de uma década, já que os trâmites legais para liberar para a população uma operação desse tipo costumam ser bem demorados.
Via Wall Street Journal
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