A descoberta reforça a possibilidade de encontrar planetas similares à Terra na nossa galáxia, a Via Láctea, segundo uma equipe internacional de astrônomos liderada por um profissional da Nasa. O trabalho foi publicado na edição desta quinta-feira (17) da revista científica americana Science.
"É o primeiro exoplaneta do tamanho da Terra encontrado na zona habitável de outra estrela", destaca Elisa Quintana, astrônoma do centro de pesquisas Ames, da Nasa, que ficou à frente da pesquisa.
"O que torna esta descoberta algo particularmente interessante é que este planeta, batizado de Kepler-186f, tem o tamanho terrestre e está em órbita ao redor de uma estrela classificada como anã, menor e menos quente do que o Sol, na zona temperada onde a água pode ser líquida", afirmou.
Considera-se que esta zona seja habitável porque a vida como a conhecemos tem possibilidades de se desenvolver naquele ambiente, segundo os pesquisadores.
Para Fred Adams, professor de Física e Astronomia da Universidade de Michigan, "trata-de de um passo importante na busca para descobrir um exoplaneta idêntico à Terra".
Nos últimos vinte anos foram detectados cerca de 1.800 exoplanetas, dos quais cerca de vinte orbitam ao redor de sua estrela em uma zona habitável. Mas esses planetas são muito maiores do que a Terra e, por isso, é difícil, devido ao seu tamanho, determinar se são de composição gasosa ou rochosa.
Concepção
artística mostra o sistema planetário da estrela Gliese 667C,
localizada na constelação do Escorpião, a 22 anos-luz de distância.
Estudos anteriores já haviam descoberto que a estrela acolhia três
planetas (b, c e d), sendo que um deles estava na zona habitável (mancha
verde). Como a Gliese 667C é muito mais fria e tênue do que o nosso
Sol, a zona habitável fica dentro de uma órbita do tamanho da de
Mercúrio, ou seja, muito mais próxima da estrela do que ocorre no
Sistema Solar. Agora, uma equipe internacional de astrônomos voltou a
estudar o sistema e encontrou evidências da existência de ao menos seis
exoplanetas (falta confirmação do h), aumentando para três o número de
candidatos com chances de abrigar vida fora da Terra.
Segundo modelos teóricos sobre a formação planetária, estabelecidos a partir de observações, os planetas que têm raio 1,5 vez inferior ao da Terra têm poucas chances, por causa do seu tamanho, de acumular uma atmosfera espessa como os planetas gasosos gigantes do nosso sistema solar.
"Nestes anos aprendemos que há uma transição líquida entre os exoplanetas cujo raio é 1,5 vez o da Terra", explica Stephen Kane, um astronauta da Universidade de San Francisco, co-autor da descoberta.
"Quando o raio é entre 1,5 e 2 vezes o do raio terrestre, os planetas são grandes o suficiente para acumular uma atmosfera espessa de hidrogênio e hélio", acrescentou.
O exoplaneta Kepler-186f tem raio 1,1 vez maior do que o da Terra e entra na categoria de planetas rochosos do nosso Sistema Solar, como Terra, Marte e Vênus.
"Levando em conta o pequeno tamanho do planeta, tem grandes possibilidades de ser rochoso e ter uma atmosfera. Se essa atmosfera oferecer boas condições, a água pode existir em estado líquido na superfície", explica à AFP Emelie Bolmont, pesquisadora da Universidade de Bordeaux, França, que participou da descoberta.
Bolmot acrescentou que, para se ter certeza de que é realmente rochoso, "seria preciso obter a massa do planeta, o que não é possível com os instrumentos atuais".
O Kepler-186f está em um sistema estelar situado a 490 anos-luz do Sol (um ano luz = 9,46 trilhões de quilômetros) e conta com outros cinco planetas, todos de tamanho parecido com o da Terra, mas situados fora da zona habitável.
Em novembro de 2013, os astrônomos consideraram que existem bilhões de planetas de tamanho terrestre potencialmente habitáveis. Essa conclusão se baseia nas observações do telescópio espacial Kepler, lançado em 2009 para esquadrinhar mais de 100 mil planetas similares ao nosso e situados nas constelações de Cisne e Lira.
Jean Louis Santini
Em Washington
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