domingo, 25 de agosto de 2013

Cientistas recomendam cautela ao procurar vida extraterrestre

A busca por vida extraterrestre açula o imaginário humano. Alguns cientistas, no entanto, acreditam que o encontro com alienígenas pode não ser tão agradável. O temor tem bases terrenas. Por aqui, ao longo da história, civilizações mais avançadas sempre subjugaram seus pares menos poderosos. A premissa não é unânime: como no nosso planeta, a evolução moral pode acompanhar o progresso tecnológico.

A visão pessimista dessa investigação tem um aliado muito respeitado na área. O físico britânico Stephen Hawking aconselha: os humanos não deveriam anunciar com tanto entusiasmo sua existência. Para ele, é provável que haja vida inteligente fora da Terra. E para nós, é melhor que ela permaneça distante.
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Mundialmente famoso por seus trabalhos sobre o universo, Hawking acha temerário emitir sinais a fim de procurar seres extraterrestres. Ele considera provável que outras civilizações, com tecnologia muito mais avançada do que a humana, poderiam gostar do contato - e vir para a Terra em busca de seus recursos naturais. 

Contrariando a recomendação, a Terra tem se mostrado bem receptiva. Há seis décadas, a emissão de sinais de rádio inaugurou a fase científica da busca por inteligência extraterrestre. Desde então, muitos foram os esforços para procurar vida no espaço e divulgar nosso planeta pelo universo.

Há 35 anos, por exemplo, as sondas Voyager partiram em uma viagem de descobrimento. Cada uma delas possui um “golden record”, disco dourado que contém informações sobre a nossa civilização, a nossa cultura e a nossa localização na galáxia. Neste momento, as duas naves, representantes terráqueas mais distantes de seu planeta natal, se preparam para abandonar o Sistema Solar. 
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Os discos dourados são apenas duas das diversas mensagens que a Terra envia a possíveis “vizinhos”.  Mais recentemente, em 2008, a Nasa lançou no espaço a canção Across the Universe, dos Beatles, enviando uma mensagem de paz que deve chegar à região de Polaris em 2439.

Bom senso
Não se sabe quem - ou o quê - poderia receber essas mensagens. Por isso, outro renomado físico, o americano Michio Kaku, disse em entrevista à rede CNN em 2012 que, embora o hipotético contato com extraterrestres tendesse a ser amigável, seria importante a humanidade se preparar para uma hostilidade alienígena. “Seria como um encontro entre Bambi e Godzilla”, comparou.

Tal preocupação é vista como um ato de bom senso por Jorge Quillfeldt, pesquisador em astrobiologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Embora evite visões alarmistas, ele se apega à história da humanidade - único caso conhecido de vida no universo - para afirmar que, se um contato com alienígenas ocorrer, é provável que tenha consequências negativas aos terráqueos. Em uma analogia semelhante, Hawking lembrou como a descoberta da América foi danosa aos povos nativos do continente.

“A história humana não é muito bonita”, diz Quillfeldt. “É baseada em povos com ligeira ou grande superioridade tecnológica e cultural conquistando outros povos. Povos mais fortes, com capacidade de guerrear maior ou tecnologia maior, acabam subjugando outros, quase sempre de forma negativa e destruidora”, compara.
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A interpretação se parece com a de Carlos Alexandre Wuensche de Souza, doutor em astrofísica e chefe de gabinete da direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para ele, se a referência for a história humana, pode-se presumir que uma civilização extraterrestre terá igual conduta colonizadora.

Wuensche, contudo, acha possível que uma civilização muito mais avançada não tenha interesse predatório - situação também cogitada por Quillfeldt. “É possível supor que, se acontecer um contato, os povos mais desenvolvidos tenham o cuidado de não chegar na hora errada, de monitorar a Terra e se aproximar no momento certo”, avalia o neurocientista.

Já para Milan Ćirković, professor e pesquisador do Observatório Astronômico de Belgrado, na Sérvia, e pesquisador associado do Instituto do Futuro da Humanidade da Universidade de Oxford, na Inglaterra, o risco é extremamente exagerado. Ele afirma que o progresso científico e tecnológico da humanidade vem acompanhado de progresso moral, citando a rejeição a práticas respeitadas no passado, como a escravidão.
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 Ćirković entende que possíveis civilizações que se dedicam à expansão interestelar devem ser moralmente superiores, o que incluiria um elevado grau de tolerância e compreensão para aqueles de tecnologia e moral inferiores. “Acredito na mesma tendência para o futuro, ou, então, uma civilização de tecnologia avançada se destruiria muito antes de se aventurar em voos espaciais interestelares”, diz.

Consenso
Entre os especialistas, há quase um consenso de que vida inteligente extraterrestre não será encontrada nos próximos anos. Wuensche diz aguardar pela identificação fora da Terra de uma forma de vida simples, como uma bactéria. Também não acredita em contato direto, como na coleta de material por um astronauta, mas pela exploração de sondas, como ocorre em Marte, atualmente. “Se eu tivesse que apostar, apostaria nisso”, diz.

“Há vida, sim, mas não vamos encontrar ETs ou naves espaciais”, concorda Quillfeldt, acrescentando que a ideia principal na comunidade astrobiológica indica que, se houver vida em outros planetas, é provável que seja unicelular, como a que originou os demais seres vivos na Terra.

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Ćirković, por sua vez, crê na possibilidade de contato inteligente, mas não em curto prazo. Para ele, a humanidade está mais propensa a detectar vestígios de atividades ligadas à megaengenharia em civilizações extraterrestres avançadas do que receber suas mensagens intencionais. “Desta etapa até a comunicação real com inteligência extraterrestre, se levará muito tempo, o que permitirá uma reflexão mais profunda e preparação para vários desfechos possíveis”, considera.

Seti
Para Ćirković, a forma ortodoxa como ocorre a busca por inteligência extraterrestre é bastante ingênua e improvável de obter sucesso. Ele entende que o chamado projeto Seti (Search for Extraterrestrial Intelligence), que busca contato por sinais de rádio, sofre com a falta de recursos e carece de um grande esforço de reestruturação.

Quillfeldt também destaca a deficiência financeira do Seti e a entende como fator decisivo para o projeto não realizar uma busca completa e, por isso, não ter obtido sucesso até agora. Segundo ele, o termo Seti surgiu em 1959, a partir de artigo dos físicos Giuseppe Cocconi e Philip Morrison na revista científica Nature, propondo o uso do rádio para possibilitar o contato caso a tecnologia extraterrestre fosse razoável.

O Seti, no entanto, não é apenas busca por rádio. Várias são os projetos vinculados ao seu objetivo central. Carlos Wuensche participa do SETI@home, desenvolvido pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, que consiste na disponibilização do seu computador para, em momentos de ociosidade da máquina, receber dados dos telescópios Seti, analisar parte deles e devolvê-los à central - processamento de dados que se chama computação distribuída.

Enquanto isso, a sonda Curiosity avança em Marte, uma empresa holandesa planeja colonizar o planeta vermelho, os telescópios Hubble e Kepler desvendam estrelas distantes, um telescópio espacial pode ser construído graças ao crowdfunding, a captura de um asteroide entra no cronograma da Nasa e o turismo espacial dá seus primeiros passos. A busca continua.

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